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Empresa da RMC suspeita de fabricar metanol é investigada

Produto estaria sendo fornecido para falsificadores de bebidas destiladas
  • Categoria: SUMARÉ
  • Publicação: 18/10/2025 10:27
  • Autor: Fonte: Correio Popular

Uma empresa do setor sucroalcooleiro localizada na Região Metropolitana de Campinas (RMC) entrou, ontem, durante a Operação Alquimia, na mira das investigações da Polícia Federal (PF) e da Receita Federal a respeito de desvio e contaminação de bebidas alcoólicas por metanol. A ação visa identificar indícios de que empresas estariam fabricando e fornecendo metanol para os falsificadores de bebidas destiladas. 

A operação foi realizada em 24 empresas localizadas em 21 municípios de cinco Estados. Além da PF e da Receita Federal, a força tarefa contou com a participação de equipes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da Agência Nacional do Petróleo (ANP). 

“Há fortes indícios de que esse combustível adulterado esteja sendo utilizado na fabricação clandestina de bebidas alcoólicas, configurando uma cadeia de irregularidades com alto potencial de risco à saúde pública”, informou em nota a Receita Federal. 

A empresa vistoriada em Sumaré fica na região central da cidade e opera no comércio e exportação de oleoquímicos. Durante três horas, os tanques foram vistoriados por equipes da força tarefa que coletaram amostras para análises químicas que possibilitem rastrear a procedência do metanol e compará-las com as obtidas em bebidas falsificadas apreendidas no Estado de São Paulo e no País. 

A direção da empresa divulgou uma nota informando que tem compromisso “com a ética, com a transparência e com o pleno cumprimento da legislação que rege o setor de biocombustível no Brasil”. E, também, que apoia as ações das autoridades públicas voltadas à moralização e a repressão de práticas ilícitas”. 

As coletas foram feitas em 14 municípios de São Paulo, em dois do Paraná, em três do Mato Grosso do Sul, em um de Santa Catarina e em um de Mato Grosso por 80 policiais federais e 70 servidores da Receita, do Ministério e da ANP. Segundo as investigações, as empresas químicas adquirem o metanol de importadores para uso industrial ou para revenda a outras indústrias químicas e teriam desviado parte do produto. 

As destilarias investigadas teriam adquirido metanol por meio de empresas conhecidas como ‘noteiras’. As notas fiscais indicavam caminhões e motoristas que, contudo, nunca chegaram aos destinos informados, sugerindo possível fraude documental. 

As amostras dos produtos coletadas nessas unidades vão passar por criteriosa análise em laboratórios para atestar a regularidade de suas composições químicas. Segundo informou a PF, em nota, “todo resultado servirá de subsídio para a instrução de investigações a respeito dos eventos de desvio e contaminação de bebidas alcoólicas por metanol, desde o início de setembro deste ano”. 

De acordo com a PF, a Operação Alquimia foi um desdobramento das operações Boyle e Carbono Oculto, que revelaram um esquema de adulteração de combustíveis. A Operação Boyle foi conduzida para apurar possíveis casos de adulteração de combustíveis por meio da utilização de metanol. 

A partir da análise do material apreendido, surgiu a Operação Carbono Oculto, que revelou um esquema com a participação do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que atua dentro e fora dos presídios, e que consistia na compra de metanol importado por empresas químicas regulares, que o repassavam a empresas de fachada, algumas delas em municípios da RMC. Essas, por sua vez, desviavam o produto para postos de combustíveis, onde o metanol era adicionado de forma ilícita à gasolina comercializada ao consumidor final.

As usinas, produtoras e distribuidoras de etanol anidro e hidratado também estão sendo verificadas por atuarem em pontos estratégicos da cadeia, fundamentais para rastrear eventuais lotes adulterados ou irregularidades na destinação do produto. 

BEBIDA ADULTERADA 

A Polícia Militar prendeu em flagrante ontem de madrugada um homem, de 28 anos, responsável por um esquema de falsificação e adulteração de bebidas alcoólicas em uma adega na Vila Formosa, em Campinas. Os policiais encontraram 19 garrafas com bebidas destiladas e outras 24 cervejas com data de validade vencida, embalagens avariadas e fortes indícios de adulteração nos rótulos. No local também foram apreendidos equipamentos utilizados para remarcar datas de validade, incluindo lixadeira automática, sopradores térmicos e frascos de tíner. O responsável pelo local confessou informalmente que adquiria bebidas vencidas, alterava as datas de validade e revendia no próprio comércio. 

Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), em todo Estado, desde o aparecimento de novos casos, na semana passada, mais de 21,4 mil garrafas foram apreendidas para averiguação com indício de falsificação ou adulteração. Em 2025, já são 71,4 mil apreensões em ações contra falsificação. São 51 prisões, 30 apenas nos últimos dias, sendo uma delas de um homem apontado como o principal fornecedor de insumos para falsificação de bebidas do Estado.